Jornal da PUC-SP

*Texto escrito pelo prof. Fernando Altemeyer*

Os terroristas do Hamas destruiram cruel e brutalmente mais de mil vidas de civis judeus por ódio obedecendo como cegos marionetes a tarefa criminosa proposta pelo governo do Irã contra judeus em Israel. Crime abominável que exige resposta da humanidade toda. Todos fomos atingidos por tal ignomínia. Entretanto, a resposta de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, ao usar do exército para bombardear aleatoriamente a faixa de GAZA matou até hoje cerca de 29.000 civis palestinos em atos diários de ódio grotesco sem ética nem justificativa de um governo civilizado, e que segue acobertado criminosamente pelo imperialismo norte-americano ao vetar o cessar-fogo humanitário.

A espiral recíproca de ódio produz mais ódio na loucura repulsiva e desumana. Todos afundam no lodaçal da desumanização. Esse não é o caminho da justiça, da verdade e da paz. Precisamos rejeitar o ódio como dever moral. É preciso quebrar a máquina da morte conduzida pelos senhores da guerra e pela indústria de armas e bombas. Precisamos dizer CLARAMENTE que o holocausto nunca pode ser subestimado e esquecido, e como escreve Zigmunt Bauman PRECISA ser compreendido em suas raízes e causas profundas como algo terrível que atingiu toda a humanidade (e não só ao povo judeu) e que é produto da modernidade e segue sendo produzido ao segregar e esmagar povos e culturas.

O genocídio é fruto da banalidade do mal e atinge toda e qualquer pessoa humana sem exceção. Quando um judeu sofre todos sofremos, quando um palestino sofre todos sofremos. Quando um humano sofre é a humanidade quem padece. Precisamos estar atentos e vigilantes para não produzir distinções entre as dores humanas.

Será preciso ouvir a voz da justiça e da lucidez para não justificar quaisquer carnificinas ou etnocídios. Nossa destino é comum. Somos todos irmãos e irmãs. Será preciso compreender o que separa a racionalidade da vergonha. É preciso parar a guerra AGORA. Assim o proclamam em alta voz Lula, papa Francisco, cardeal Parolin, filósofo Edgar Morin e todos/as amantes da justiça e da paz. Não é possível mais ver e dormir com as mortes de judeus, palestinos, ucranianos, sírios, congoleses, migrantes e refugiados. 

Alerta de Edgar Morin nos questiona: "Assim como é necessário manter viva a memória dos milhões de vítimas do nazismo, também é necessário o respeito por essa memória que não pode justificar o domínio de Israel sobre o povo palestino, que é inocente em relação aos crimes de Auschwitz". Clique aqui.

Os profetas seguem clamando na Palestina e na Judeia

O profeta Isaías no capitulo 11 da Biblia Hebraica proclamou o caminho da paz aos povos semitas: 
1 Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará.
2 E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor.
3 E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos.
4 Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com eqüidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará ao ímpio,
5 E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins.
6 E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará.
7 A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi.
8 E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco.
9 Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.

Lemos no Sagrado Alcorão, que um dos mais terríveis castigos celestiais é reservado aos homicidas. “É por isso que prescrevemos/decretamos para os filhos de Israel que quem matar uma alma, sem [ser culpada de] homicídio culposo ou corrupção na terra, é como se ele tivesse matado toda a humanidade, e quem salvar uma vida é como se ele tivesse salvado toda a humanidade. Nossos apóstolos certamente trouxeram-lhes sinais manifestos, mesmo assim, muitos deles cometeram excessos na Terra”. (Surata Al Maidah 5:32)

Assim diz o sutra Mahayana:

"Uma certa deusa, com a
mente inundada de assombro, louvou o Bodhisattva:
Ó ser de mente nobre, que abraça todos os seres com compaixão,
Aqui, enquanto alegremente dá o seu corpo, herói entre homens,
Sem demora e sem esforço você encontrará a paz suprema,
Aquele estado sublime, tranquilo, destituído das dores do nascimento e da morte (A nobre e sublime luz dourada)".

Livros para um pensamento lúcido:

ZIGMUNT BAUMAN, Modernidade e Holocausto, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1998.
HANNAH ARENDT, Eichman em Jerusalem - Banalidade do Mal, BHZ: Editora UFMG, 1998.
MOUSTAPHA SAFOUAN, A palavra ou a morte, Campinas: Papirus, 1993.