Jornal da PUC-SP

Os médicos Maria Carolina Loureiro (FSP/USP) e Ardigò Martino (Universidade de Bologna/Itália e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) proferiram a aula “Novo Coronavírus: Saúde Global e Xenofobia”, que marcou a abertura do internato de Saúde Coletiva do curso de Medicina da PUC-SP. A atividade aconteceu nesta quinta-feira (27), às 14 horas, no campus Sorocaba.

Maria Carolina é neurocirurgiã formada pela Universidade de Paris XI; especialista em Saúde Global pelo Institut de Hautes Etudes Internationales et du Développement, de Genebra, e foi a primeira professora de Saúde Global em um curso de graduação de Medicina no Brasil (na PUC-SP).

Ardigò é graduado em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Bologna, na Itália, onde também obteve o título de doutor (2012) e especializou-se em Medicina Preventiva. Ele integra o Conselho Científico do Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Internacional e Intercultural - Alma Mater Studiorum – da mesma universidade.

Compareceram à aula os alunos do 4º ao 6º ano de Medicina, além de diversos professores da PUC-SP e profissionais da saúde ligados a hospitais e à Prefeitura de Sorocaba.

Maria Carolina dividiu sua aula em oito tópicos: Covid-19, contexto atual da China, globalização das doenças, segurança e biossegurança, migrações internacionais e a segurança da saúde, segurança sanitária e a agenda global, securitização da saúde global (incluindo violação de direitos humanos e o papel da mídia e do meio acadêmico) e a mudança climática relacionada ao risco de novas epidemias.

Traçando um panorama básico sobre o Covid-19, Maria Carolina disse que ainda não está confirmada a origem da doença (que pode não ser apenas dos morcegos); os grupos de risco; sintomas; diagnósticos; entre outros. Mais adiante, referindo-se ao número de vítimas fatais com a população correspondente a cada país que já registrou casos do novo coronavírus, afirmou: “Não dá para falar em saúde pública sem falar da contagem populacional. É preciso, com um olhar crítico e cientifico, redimensionar a saúde pública”.

Numa comparação estatística, citou que, atualmente, os principais fatores de risco para a saúde da população na China são: doença cardiovascular (atinge 27% dos chineses), doença isquêmica do coração (54%), câncer do pulmão (57%) e Alzheimer (61%). Segundo projeções mostradas pela médica, em 2050, o governo chinês terá que investir, por habitante, cinco vezes mais daquilo que investe hoje.

Ela também contou que a primeira vez em que os países ricos se encontraram para discutir saúde pública foi em 1831, na cidade de Paris, na França, quando se realizou a primeira conferência sanitária mundial – muito mais por motivos econômicos do que por preocupação com a saúde, uma vez que as quarentenas estavam impactando negativamente no comércio internacional.

Seguindo essa linha de raciocínio, explicou que os principais financiadores da Organização Mundial da Saúde (OMS) da atualidade são os Estados Unidos (17% do total das verbas), Fundação Gates (17%), Reino Unido (9%), Aliança para Vacina (5%) e Comissão Europeia (4%). “Setenta e quatro por cento das mortes do mundo são decorrentes de doenças crônicas, mas menos de 3% dessas verbas são direcionadas a elas. Há uma discrepância que mata as pessoas, o que já leva vocês à conclusão da minha aula”, afirmou Maria Carolina.

Ela esclareceu que o Regulamento Sanitário Internacional é quem determina os critérios necessários para classificar uma doença como Epidemia de Importância Internacional, como é o caso do Covid-19 e como foi com o ebola, por exemplo. “É o risco da sua propagação em diferentes territórios – não o número de casos ou a gravidade de morte – o que importa.”

Após ela encerrar sua participação, Ardigó Martino - por videoconferência, diretamente do Mato Grosso do Sul - elogiou a forma como o tema foi abordado pela colega e fez um relato sobre as políticas nacionais da Itália ligadas à questão. Ele introduziu na discussão pontos sobre a globalização e a saúde, a relação entre o conhecimento científico e o mundo, como ensinar a ciência à comunidade, entre outros.   

No final da aula, foi aberto um fórum para os presentes discutirem com os palestrantes os temas abordados.