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Há mais de 20 anos o periódico faz parte da formação dos estudantes de jornalismo da PUC-SP
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Só nos tornamos verdadeiramente profissionais quando passamos a exercer o oficio. Formação acadêmica é fundamental, claro, mas é preciso exercer na prática o que se aprendeu nos bancos da faculdade.
Na área de Jornalismo não é diferente. Pensando nesta necessidade do exercício profissional, em 2001, o Depto. de Jornalismo criou o jornal Contraponto.
O Início
Segundo texto produzido coletivamente no início, o Contraponto foi criado como um jornal para dialogar com a tradição universitária da PUC-SP, construída por décadas, de maneira plural, humanista e democrática. A publicação veio para ser o resultado de um projeto, elaborado por professores e alunos ao longo de muitos meses de debate e reflexões. Seu projeto final foi votado em reuniões amplas e transparentes.
O veículo é, basicamente, voltado para a crítica da mídia, tanto no que se refere ao seu conteúdo explícito (em diversas maneiras de publicações), quanto naquilo que se refere às articulações entre mídia e o poder político institucional, os movimentos sociais, o mundo financeiro etc.
Assim nasceu o Contraponto, que teve como seu primeiro editor o jornalista e professor José Arbex Júnior. “Fui o primeiro editor do Contraponto, no mesmo ano em que ingressei na PUC-SP. O departamento havia decidido criar um jornal laboratório e elaborou uma visão geral de como deveria ser, mas precisava de um editor para concretizar um projeto editorial. Tive a honra de desenvolver o projeto, sempre trabalhando em consonância com o departamento e com o conjunto dos alunos. Chegamos a fazer assembleias com mais de 100 alunos presentes para discutir as linhas básicas do projeto editorial, que foi amadurecendo num processo muito democrático e coletivo”, relata Arbex.
Democrático, sem censura e sem tabus
Segundo Arbex, a ideia era que o jornal fosse uma produção coletiva, entre professores e estudantes do curso de Jornalismo, trouxesse assuntos relacionados às conjunturas política e cultural de maneira crítica e, preferencialmente, contra hegemônica.
"O Contraponto foi criado para ser um jornal laboratório, experimental e crítico. Seu objetivo era oferecer uma cobertura dos principais acontecimentos da conjuntura com um olhar distinto e alternativo ao olhar das grandes empresas jornalísticas. Como os termos chave da publicação são ‘crítica’ e ‘contra hegemônica’, desde o início também o funcionamento do veículo deveria ser radicalmente democrático. E assim ele foi sendo construído, com temas de reportagens decididas coletivamente, por votação dos presentes nas reuniões de pauta. Nunca houve qualquer episódio de censura, nunca houve qualquer tema tabu, nunca houve assuntos intocáveis”, afirma Arbex.
Havia ainda o objetivo de atender aos aspirantes a jornalistas, oferecendo uma experiência integral. Ou seja, os estudantes podem passar por todos os processos necessários para a produção de um jornal. “Havia ainda mais uma questão: o veículo deveria ser um jornal do curso de Jornalismo, isto é, nem de estudantes, nem de professores, mas do curso. Deveria refletir a vida do curso, as suas visões e perspectivas sobre o Brasil e o mundo. Esse foi, desde sempre, o grande desafio”, ressalta Arbex.
Objetivos e prêmio alcançados
Vinte e um anos depois da sua criação, o Contraponto está a todo vapor. O desafio é constante, mas os propósitos almejados na criação, segundo seu primeiro editor, foram positivos. "Creio que os objetivos foram alcançados e estão sendo mantidos. Já no nosso primeiro ano de existência, ganhamos o prêmio de melhor jornal laboratório do Brasil, numa conferência nacional da Expocom, realizada em Salvador. Conseguimos, ao longo dos anos, manter a publicação regular do jornal com uma média de seis edições ao ano”, comemora Arbex.
Com o passar do tempo, o jornal foi mudando a sua "cara", para incorporar temáticas que ganharam grande importância, como questões de gênero, por exemplo. Segundo o docente, tudo sem perder a essência: visão crítica, funcionamento democrático e transparência.
Os estudantes
Raul Vitor cursou Jornalismo na PUC-SP entre os anos de 2017 e 2021 e durante todo o período atuou no Contraponto, tendo colaborado em várias edições com trabalhos variados. Ele contou ao JPUC um pouco de sua vivência no jornal.
“Tive a experiência de produzir textos e também passei pelo cargo de editor-assistente, o que me ajudou nas entrevistas quando procurei por estágio. Geralmente, a busca pelo primeiro emprego é feita do zero, mas eu já tinha alguma experiência por causa do jornal, o que facilitou no entendimento de algumas demandas”, recorda Raul.
Ele hoje atua no SBT, como repórter e redator do site de esportes do canal, e reconhece a importância da prática que experimentou no Contraponto. "Foi muito relevante porque o jornal é uma espécie de curso à parte na grade da graduação. Até defendo que a passagem pelo jornal poderia ser obrigatória para os calouros, mas entendo que a voluntariedade dos colaboradores torna a dinâmica mais produtiva”, defende Raul.
Para ele, foi no Contraponto que aprendeu a cumprir prazos, diferenciar pauta de ideia, saber quem é fonte e quem não é. “Isso me ajudou muito ao longo da graduação”, afirma, mas faz uma ressalva: nas questões editoriais, Raul Vitor entende que o jornal não dialoga com sua realidade de hoje. “O Contraponto não é um veículo de mídia hegemônica, então a dinâmica é muito diferente da que encontramos nas grandes redações. Pelo menos foi diferente do que eu encontrei nas duas em que pude trabalhar, Estadão e SBT. São realidades completamente distintas. Mas isso não foi ruim, porque pude ter essa experiência diferente ao longo da graduação”, conclui o ex-estudante.
Rafaela Reis Serra atua no Contraponto desde o segundo semestre de 2020, ano que entrou no curso de Jornalismo da PUC-SP. Também estagiou no jornal como editora-assistente. Segundo a estudante, sua incursão no projeto foi fundamental. “Foi pelo Contraponto que pude ter certeza que gosto da profissão que escolhi exercer: o Jornalismo. Neste período que estou contribuindo para o jornal, pude trabalhar com pautas de meu interesse e encontrei muita liberdade para exercer minha criatividade”, afirma Rafaela.
Para ela, a experiência com o Contraponto está sendo de grande importância em sua vida fora da Universidade. “Com o jornal, obtive experiência em entrevistar fontes sobre temas variados. Aprendi muito com os entrevistados, não só sobre os assuntos que abordavam, mas também com a paixão das pessoas pelo que fazem. Isso me ajudou a continuar nos momentos mais difíceis durante o período de pandemia”, conta Rafaela.
A estudante falou ainda sobre o carinho que tem pelo Contraponto. “Tenho muito carinho pelo jornal, sempre busquei fazer as melhores matérias, uma vez que as assumi. Acho que ter um jornal laboratório numa faculdade, que dê toda essa oportunidade que o Contraponto nos dá, é um grande aprendizado e, consequentemente, nos traz benefícios”, conclui.
Após 18 anos como editor, Arbex deixou o cargo de editor-chefe, o qual foi assumido por Anna Feldmann. “Permaneci como editor durante 18 anos, quando o Departamento sentiu a necessidade de implantar um sistema de "rodízio" de editores, tanto do Contraponto quanto de outros produtos laboratoriais. Achei a iniciativa muito boa e saudável. Fui substituído pela professora Anna Feldmann, que está fazendo um excelente trabalho”, conclui o professor e ex-editor do Contraponto.
Nova fase, nova editora-chefe
Em 2019 a prof. Anna assumiu, então, o cargo de editora do Contraponto. A intenção era manter as características principais da publicação, porém realizar mudanças e algumas atualizações necessárias.
“O Contraponto segue com os mesmos princípios de sua idealização: ser uma atividade de natureza didática e pedagógica, com objetivo geral de unificar a prática e a teoria do Jornalismo. Porém, nos últimos anos foi necessária a sua modernização. Neste sentido, algumas iniciativas foram realizadas, como mudanças no projeto gráfico, para deixá-lo mais moderno e dinâmico, aumento no número de páginas de 24 para 36, a organização de um guia para participação de novos estudantes e um manual de redação. Também aumentamos o número de reuniões de pauta, contemplando todos os períodos do curso (matutino, vespertino e noturno), criamos novas editorias e cargos vinculados às áreas temáticas como política, moda, economia, cidades, saúde, internacional, esportes, cultura, fotografia e mídias sociais e ampliamos os canais de comunicação existentes (Whattsapp e Issuu) e foram criados outros como Instagram e Telegram”, afirma Anna Feldmann.
Quanto ao futuro, a editora-chefe do Contraponto listou os focos para os próximos anos. “Garantir as quatro edições anuais mantendo as características já listadas, aumentar os canais de comunicação e organizar eventos, oferecer aos estudantes do curso a oportunidade de aprendizado por meio da consolidação de redes de pesquisas internacionais, com possíveis campos de atividades interdisciplinares e realizar com o apoio do curso de Jornalismo a criação de uma sala de redação ampliada”, prevê a docente.
A editora ainda falou sobre a intenção e a importância da manutenção da publicação de forma impressa, apesar de todos os desafios que isso envolve. “Nosso objetivo é sempre existir como veículo impresso. O Contraponto proporciona aos estudantes a experiência organizacional de um periódico impresso, permitindo uma vivência aos futuros jornalistas sobre como conduzir as etapas de apuração, desenvolvimento dos textos, revisão, diagramação, impressão e divulgação jornalística”, defende Anna.
Há alguns anos, o Contraponto criou sua versão digital que, durante o fechamento do campus nos primeiros anos da pandemia, cumpriu o papel de manter viva a circulação do jornal.
“O fato é que o mercado impresso segue sendo uma importante área jornalística. Além disso, diante da fadiga das mídias digitais e das telas, o respiro do meio impresso oferece diferenciação e credibilidade. Além do fato de proporcionar experiências como o contato com fotografias, tipografias, papel, entre outros recursos. Outro fator importante é respeitar o perfil do estudante do curso de Jornalismo, que possuí forte aderência à leitura impressa, tanto de livros, como de jornais e revistas. Por fim, acredito que manter o jornal impresso é dar continuidade à nossa história como comunidade acadêmica, que há mais de duas décadas é impressa no jornal Contraponto”, conclui a professora.