Trabalho desenvolvido no campus Sorocaba tem repercussão internacional

Orientada pelo vice-reitor Fernando Antônio de Almeida, tese de mestrado da radiologista Mônica Bernardo originou trabalho que ganhou notoriedade fora do Brasil.

por Redação | 03/10/2018

Em 2009, ao participar de um Congresso Internacional de Radiologia, a médica sorocabana Mônica Bernardo conheceu um programa norte-americano, criado um ano antes, que comprovava a necessidade de reduzir as doses de radiação contidas nos exames de imagem realizados em crianças. “O fato de suas células estarem em desenvolvimento torna-as mais sensíveis aos efeitos colaterais desses procedimentos”, explica. Desde então, Mônica tem se dedicado a disseminar esse tema pelo Brasil e, consequentemente, participou de encontros científicos nacionais e internacionais. 

Tese sedimenta o que viria a se tornar um tema nacional 

A tese de conclusão de Mônica Bernardo para o Mestrado Profissional em Profissões da Saúde, promovido pela PUC-SP no campus Sorocaba e do qual ela participava, era intitulada “Reduzir a dose de radiação em crianças que realizaram tomografia computadorizada de crânio não traz prejuízo ao diagnóstico, motiva a educação permanente e promove campanha de radioproteção”. O orientador foi o professor Fernando Antônio de Almeida, atual vice-reitor da Universidade. 

Publicações recentes demonstraram a análise de indicativos que revelavam uma maior incidência de câncer e catarata em crianças submetidas à tomografia, em comparação àquelas sem exposição. Também apontou-se o fato de que a quantidade de exames radiológicos estava aumentando significativamente – sobretudo nos jovens pacientes que haviam sofrido trauma crânio-encefálico. 

De acordo com Mônica, os objetivos da sua tese eram avaliar se a redução da dose de radiação em tomografias computadorizadas de crânio prejudicava a interpretação do exame e o diagnóstico em crianças com trauma crânio-encefálico, assim como desencadear, no ambiente de trabalho da área da saúde, a discussão e implementação de medidas capazes de reduzir a dose de radiação recebida por crianças. Paralelamente, buscava-se a conscientização dos pediatras, profissionais da saúde e familiares.

Unimed do Brasil transforma tese em programa

Um ano depois, em 2010, ela apresentou à Unimed Sorocaba uma proposta para que fosse implantado o seu projeto, promovendo um Programa de Proteção Radiológica. Este foi aceito pela instituição – cujos quadros médicos incluem Mônica. 

Já em seu primeiro ano, a iniciativa resultou numa redução de 22% na quantidade de exames pediátricos contendo radiação, sem qualquer prejuízo ao diagnóstico dos quadros clínicos. 

O sucesso fez com que a cooperativa médica sorocabana transformasse esta tese num programa permanente, que perdura até hoje. 

Espelhada nesse dado positivo e em diversos estudos realizados por algumas das mais respeitadas autoridades e entidades mundiais na área de radiologia, a Unimed do Brasil também o adotou.

Uma mudança de cultura

“Trata-se, acima de tudo, de uma mudança cultural nas unidades de saúde e em profissionais de diversas áreas, como, por exemplo, médicos, enfermeiros e técnicos de radiologia”, sintetiza o professor Fernando Almeida. “Aqui, na PUC-SP, nosso estudo já estimulou o surgimento de quatro trabalhos de iniciação científica. Ele tem atraído muitos acadêmicos, residentes e docentes à discussão dessa problemática, assim como estimulou o Hospital Santa Lucinda, parte integrante do Complexo PUC-SP em Sorocaba, a criar seu próprio programa de proteção radiológica, ainda em 2016”, complementa Mônica. 

Convites das principais entidades de radiologia e energia atômica

Num momento em que a saúde discute os mecanismos de segurança do paciente, a proteção radiológica se tornou um dos itens de maior relevância nesse contexto. Também por isto, a médica sorocabana participou e expôs seu trabalho em congressos nacionais e internacionais, como aqueles promovidos pelos colégios Europeu, Americano (o principal do mundo) e Brasileiro de Radiologia. 

Neste último, em reunião privada, Mônica foi convidada a expor o seu estudo a um grupo de líderes mundiais envolvidos na proteção radiológica e pertencentes à Agência Internacional de Energia Atômica.

Para o professor Fernando Almeida, o trabalho desenvolvido por Mônica Bernardo no Mestrado Profissional reflete muito bem o papel primordial da Universidade: produzir conhecimento, servir à comunidade e provocar transformações a partir da indução de condutas e comportamentos positivos. 

Curso de mestrado profissional como agente modificador

Outro ponto destacado por ele é que, até pouco tempo atrás, os cursos de mestrado eram, basicamente, acadêmicos. “Contudo, o mestrado profissional vai além disso, pois tem um componente importante e adicional – modificar o trabalho das pessoas.” Tamanha é sua relevância que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) já lançou edital de doutorado profissional, nível ainda inédito no Brasil. 

Tanto o vice-reitor da PUC-SP quanto a radiologista Mônica Bernardo entendem que a proteção radiológica voltada às crianças altera uma cultura enraizada, principalmente entre os pais e responsáveis. A radiação dos exames de raios-X e tomografia computadorizada pode provocar resultados indesejáveis nos tecidos humanos quando utilizada repetidamente, pois tem efeito cumulativo no organismo. 

É por esta razão que os médicos sempre procuram considerar se o exame realmente é necessário ou se é possível obter o diagnóstico por outro método sem radiação ionizante – como os exames clínicos ou, até mesmo, o ultrassom, que não requer radiação alguma. 

Comparativos preocupantes

Para se ter ideia, uma radiografia frontal simples corresponde a um dia inteiro de radiação natural (que pode ser de origem solar – isto é, infravermelha e ultravioleta – ou cósmica); uma tomografia no crânio, a oito meses; e uma tomografia de abdome, a 20 meses. Além disso, a dose de radiação se multiplica de acordo com o número de execuções desses procedimentos. 

Atualmente, a radiação em pequenas doses repetidas está sendo proporcionalmente comparada ao impacto da bomba de Hiroshima. Apesar de haver parâmetros, o resultado depende de cada indivíduo. De qualquer modo, esses exames devem ser usados com cautela, avaliando o risco-benefício da sua indicação. 

Os efeitos das radiografias e tomografias podem incluir catarata precoce, radiodermite e aumento na incidência de câncer. Trabalhos internacionais evidenciam o crescimento no número de tumores de partes moles, como aqueles da tireoide, do sistema linfático, do sistema nervoso central, melanoma e linfoma.

Risco 24% maior de desenvolvimento de carcinoma cerebral ou leucemia

Recentemente, uma pesquisa da Escola Superior de Tecnologia e Saúde de Coimbra (ESTeSC), ligada à Universidade de Coimbra, permitiu implementar novas práticas nos exames de radiologia e diminuir o risco de radiação em exames nas crianças. De acordo com o estudo, o risco de aparecimento de um carcinoma cerebral ou leucemia pode ser diminuído em 24% por meio da redução de radiação nos exames pediátricos de tomografia computorizada.

 
 

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