Jornal da PUC-SP

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) divulgou os resultados do Inquérito Epidemiológico/Dermatológico 2024, revelando um retrato contrastante da saúde da pele no país. Enquanto a acne desponta como o diagnóstico mais frequente nos consultórios privados, sobretudo entre jovens de 13 a 24 anos, o câncer de pele ocupa o topo da lista nos atendimentos da rede pública.

“Estes resultados expõem fatores socioeconômicos e demográficos que moldam o perfil das doenças de pele no Brasil, da acne típica da juventude ao câncer cutâneo, que ainda representa um grave desafio de saúde pública”, afirma o professor Cassiano Tamura, coordenador da disciplina de Dermatologia da Faculdade de Medicina da PUC-SP. “Além da questão envolvendo políticas públicas, as constatações são úteis na formação dos futuros médicos, dos residentes e às pesquisas da indústria farmacêutica.”

De acordo com a SBD, o estudo obedeceu a uma rigorosa metodologia, contou com a participação de dermatologistas associados à entidade e analisou pacientes atendidos entre agosto e setembro de 2024.

Detalhes da pesquisa

♦ A acne respondeu por 9,5% dos diagnósticos, concentrando quase 80% dos atendimentos na rede privada e se manifestando sobretudo entre jovens de 13 a 24 anos. Este recorte reforça tanto o peso estético quanto a busca precoce por cuidados dermatológicos nesse público.

♦ A psoríase representou 7,1% dos registros, com predominância entre adultos de 25 a 59 anos e maior incidência no setor privado, em especial em consultas de acompanhamento. Isso sugere a natureza crônica da doença e o impacto recorrente sobre o sistema de saúde suplementar.

♦ Já as neoplasias malignas de pele corresponderam a 6,9% dos atendimentos, sendo 58,3% diagnosticados na rede pública. Isso evidencia o papel estruturante do SUS na triagem e no encaminhamento de casos graves, além de refletir a relevância das políticas de rastreamento e prevenção.

Ações do Ministério da Saúde

Em resposta ao avanço dos casos de câncer de pele no Brasil, o Ministério da Saúde, em parceria com a SBD, tem reforçado políticas de prevenção e tratamento em múltiplas frentes. Campanhas de conscientização, como o Dezembro Laranja, alertam a população sobre a importância do diagnóstico precoce e da adoção de hábitos protetores – entre eles, o uso diário de filtro solar com FPS igual ou superior a 15, roupas com proteção UV, chapéus, óculos escuros e a restrição da exposição solar nos horários de maior intensidade.

No campo assistencial, o SUS assegura acesso gratuito ao diagnóstico e às terapias necessárias – da fotodinâmica a procedimentos mais complexos, como quimioterapia e radioterapia –, com suporte de uma rede estruturada de hospitais credenciados como Unacons e Cacons.

Além disso, o ministério incentiva pesquisas e o desenvolvimento de novas tecnologias voltadas ao tratamento do câncer de pele, buscando reduzir a incidência da doença e, também, ampliar a efetividade e a equidade do atendimento oncológico em todo o país.

“Esses achados reforçam a necessidade de um olhar contínuo sobre a saúde da pele dos brasileiros. Vale lembrar que a dermatologia não se restringe à estética: ela envolve a prevenção, o diagnóstico precoce e o impacto direto na qualidade de vida da população”, destaca Tamura.