Mpox: Disseminação de uma antiga doença zoonótica

Artigo do prof. Marcos Vinicius da Silva (Medicina)

por Redação | 03/09/2024
Marcos Vinicius da Silva
Doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Faculdade de Medicina da USP
Professor Associado da Faculdade de Medicina da PUC-SP
Supervisor do Programa de Residência Médica em Infectologia da Faculdade de Medicina da PUC-SP
Consultor do Ministério da Saúde em Zoonoses
Coordenador do Ambulatório de Doenças Tropicais e Zoonoses do Instituto de Infectologia Emilio Ribas da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo

 

 

A Mpox, anteriormente conhecido como varíola dos macacos, é uma doença infecciosa, contagiosa, viral causada pelo vírus Mpox, membro da família Poxviridae, mesma família do vírus da varíola humana.

A doença foi identificada pela primeira vez em 1958, quando um surto ocorreu em macacos procedentes da África, em um laboratório dinamarquês. O primeiro caso humano foi registrado em 1970 na República Democrática do Congo. Desde então, os casos da Mpox foram relatados principalmente em áreas florestais da África Central e Ocidental.

No entanto, a partir de 2022, houve expansão significativa dessa doença para outros continentes, incluindo América do Norte, Europa e América Latina, com surtos não relacionados às viagens ou ao contato com animais silvestres, mas de transmissão por contato inter-humano, principalmente nas relações sexuais.

O quadro clínico da Mpox é caracterizado por sintomas semelhantes aos da varíola, embora geralmente mais brandos. O período de incubação da doença é de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias. Os principais sintomas são: febre alta, dores musculares (mialgia), dor de cabeça (cefaleia), cansaço, mal estar, acompanhado por calafrios, aumento do volume dos gânglios linfáticos, que podem ser dolorosos. Posteriormente há o aparecimento de erupção cutânea, com áreas da pele avermelhadas (máculas), que evoluem para lesões mais elevadas (pápulas), bolhas (vesículas), pústulas e crostas, que com a melhora clínica secam e caem.

A doença geralmente é autolimitada, e a maioria dos pacientes se recupera em 2 a 4 semanas. No entanto, casos graves podem ocorrer, especialmente em pessoas com o sistema imunológico comprometido ou condições de saúde pré-existentes, podendo levar a formas graves da doença e a morte.

Essa doença pode ser transmitida de pessoa para pessoa pelo contato direto com os fluidos corporais de uma pessoa infectada ou doente, pelo contato com as lesões, secreções respiratórias durante a fala, tosse ou espirros, ou indiretamente pelo contato com objetos, roupas, lençóis, toalhas, superfícies com a presença do vírus. As crostas, mesmo secas, também são fonte de infecção e podem permanecer no meio ambiente por longos períodos de tempo.

Alguns animais silvestres como roedores e primatas podem albergar esse vírus e transmiti-lo para outros animais ou para o homem pelo contato direto, pelos fluidos corporais ou pela ingesta da carne desses animais, mal cozida ou crua. Outras possibilidades de transmissão da Mpox são: nas relações sexuais, da mãe para o filho durante a gestação, via placentária, ou durante o parto.

O diagnóstico dessa doença é clínico, fundamentado nos antecedentes epidemiológicos do paciente, quadro clínico e na confirmação por exames laboratoriais, como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), cultivo viral e métodos sorológicos.

Não há medicação específica para essa doença. O tratamento requer o isolamento de contato e respiratório do doente, sendo o mesmo liberado do isolamento somente quando não houver crostas, cura da doença. As medidas sintomáticas são instituídas com analgésicos, antitérmicos, hidratação e monitoramento das complicações, que requerem internação e tratamento hospitalar. Os pacientes com sintomas graves ou imunossuprimidos devem ser acompanhados de perto para manejo das possíveis complicações.

A prevenção é a melhor estratégia no combate e na disseminação da Mpox. Para isso é importante evitar o contato direto com pessoas ou animais que apresentem sintomas suspeitos. Manter práticas de higiene rigorosas, como lavar as mãos frequentemente e usar desinfetantes, podem diminuir o risco de infecção e disseminação da doença, assim como evitar compartilhar roupas, lençóis ou utensílios pessoais. Nas áreas endêmicas, seguir as orientações de saúde pública e vacinar-se, se recomendável. A conscientização sobre as formas de contágio e a adoção de medidas preventivas são essenciais para controlar a propagação da Mpox, se proteger e proteger outras pessoas.

A vacina contra a varíola dá proteção cruzada para essa doença e também as novas vacinas para Mpox, que devem ser consideradas para pessoas com alto risco de exposição, especialmente durante os surtos.

Para os trabalhadores da área da saúde e para os cuidadores de pacientes com Mpox, o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) é necessário e importante para evitar o contágio e posterior disseminação da doença.

As informações sobre a transmissão, sinais e sintomas da doença, diagnóstico precoce, o isolamento do doente, a vigilância contínua e a resposta rápida a surtos são essenciais para controlar a disseminação do vírus e minimizar o impacto da Mpox.

 

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