Professor da PUC-SP explica como avanços apresentados no maior congresso de oncologia melhoram o tratamento do câncer de mama

por Redação | 24/06/2025

Estudos apresentados no congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), realizado entre 30 de maio e 3 de junho e considerado o maior evento mundial da oncologia, trouxeram resultados promissores no tratamento do câncer de mama, o tipo mais comum entre mulheres no Brasil e no mundo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados mais de 73 mil novos casos no país em 2025. Globalmente, são cerca de 2,3 milhões por ano.

Uma nova fase para os tratamentos oncológicos

De acordo com o professor-doutor Luís Pires, da Faculdade de Medicina da PUC-SP e coordenador da Residência Médica em Oncologia Clínica na mesma instituição, os dados apresentados marcam uma virada no tratamento do câncer de mama. O evento reuniu 813 abstracts (resumo de um artigo científico, estudo ou trabalho acadêmico) sobre o tema, destacando os primeiros benefícios de sobrevivência global em populações específicas, novas classes de medicamentos e novas estratégias de tratamento.

Novidades dobram chances de resposta e reduzem risco de morte

Um dos principais resultados foi a terapia tripla com inavolisibe, palbociclibe e fulvestranto, voltada para pacientes com câncer de mama do tipo ER+/HER2- com mutação no gene PIK3CA. Essa combinação elevou a sobrevida de 27 para 34 meses, dobrou a taxa de resposta (63% contra 28%) e reduziu em 33% o risco de morte.

Outra inovação é a chegada da primeira tecnologia PROTAC na oncologia, com o medicamento vepdegestrant. Ele atua induzindo a degradação seletiva de proteínas que alimentam o câncer, ensinando o próprio organismo a eliminar as células tumorais. O remédio foi eficaz em pacientes que desenvolveram resistência a terapias anteriores, ampliando o tempo sem progressão da doença de 2,1 para cinco meses em casos com mutações específicas.

Avanços também no câncer de mama triplo-negativo, o mais agressivo

Para o tipo triplo-negativo, considerado o mais difícil de tratar, uma combinação de imunoterapia (pembrolizumabe) com o anticorpo-droga sacituzumabe govitecano superou a eficácia da quimioterapia tradicional associada à imunoterapia. O novo protocolo oferece melhor controle da doença e menos efeitos colaterais.

Mais qualidade de vida e tratamentos personalizados

O anticorpo-droga trastuzumabe deruxtecano segue mostrando resultados além do câncer de mama HER2-positivo, funcionando também em tumores com baixa expressão da proteína HER2. Outro foco dos estudos foi a melhoria da qualidade de vida, com estratégias para reduzir efeitos adversos, como a queda de cabelo durante os tratamentos.

“Estamos claramente entrando numa nova era, na qual testes genéticos simples ajudam a escolher o melhor tratamento para cada paciente, de forma personalizada”, afirma Pires.

Inteligência artificial melhora diagnóstico precoce

As IAs também ganharam espaço no congresso. Algoritmos aplicados a mamografias e tomossíntese digital já estão aumentando a precisão no diagnóstico precoce e reduzindo erros de interpretação. “O avanço das IAs tem sido impressionante e promete transformar tanto o diagnóstico quanto o acompanhamento dos pacientes”, ressalta o professor-doutor.

O desafio: fazer os avanços chegarem à população

Apesar dos avanços científicos, o maior obstáculo é garantir que esses tratamentos estejam disponíveis para todos. “A ciência tem avançado rapidamente, com perspectivas reais de controle e até cura em muitos casos. Mas isso só se traduz em benefício real se houver investimento em acesso, estrutura e formação profissional. Esse é o grande desafio, especialmente no Brasil”, conclui Pires.

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