Uso de aplicativos de namoro por jovens cresce; docente da PUC-SP alerta sobre riscos

por Redação | 12/08/2025

Adolescentes estão recorrendo a aplicativos de namoro com mais frequência do que se imaginava — e, agora, há dados inéditos que qualificam esse fenômeno. Uma pesquisa publicada em julho no Journal of Psychopathology and Clinical Science revelou que 23,5% dos jovens entre 13 e 18 anos utilizaram esse tipo de plataforma em um período de seis meses. Pela primeira vez, o uso foi monitorado com base na atividade real no celular – incluindo digitações e navegação –, em vez de depender apenas de relatos autodeclarados, como é mais comum em pesquisas do tipo.

Apps de namoro e o agravamento de sintomas emocionais

O levantamento revelou que os adolescentes que usaram aplicativos de namoro com maior frequência já apresentavam, antes do início do estudo, níveis mais altos de sintomas associados à depressão maior. Além disso, eram púberes há mais tempo e demonstravam maior propensão a comportamentos de risco.

Segundo a psiquiatra e professora do curso de Medicina da PUC-SP, Elaine Aparecida Dacol Henna, a adolescência é um período crítico para o surgimento de sintomas depressivos e ansiosos, sendo as relações sociais um fator importante tanto na origem quanto na manutenção desses quadros.

A especialista ressalta que, embora este estudo não tenha identificado diferenças deletérias significativas entre os grupos, observou-se uma associação entre maior número de trocas de mensagens e uma probabilidade mais elevada de sintomas depressivos ao longo da semana. Inserida em um contexto que vai além da medicina e abrange questões sociais, ela observa que essas plataformas expõem os jovens a riscos adicionais, como o aumento da vulnerabilidade à violência.

Uma revisão publicada em 2024 pela revista Trauma, Violence & Abuse revelou que entre 54% e 89% dos jovens usuários de aplicativos de namoro foram expostos à violência, tanto online (como o recebimento de fotos íntimas sem consentimento) quanto offline (como sexo sem consentimento e assédio). Essa violência tem sido associada a quadros de depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, queda na autoestima e aumento da solidão.

Outro risco relevante é o catfishing, prática em que alguém finge ser outra pessoa para manipular emocionalmente a vítima e obter imagens íntimas, que podem ser usadas posteriormente para extorsão ou chantagem.

Relacionamentos reais e desenvolvimento emocional

A professora de Psiquiatria da PUC-SP explica que relacionamentos bem-sucedidos dependem de habilidades como diálogo, empatia e capacidade de lidar com conflitos – competências que se desenvolvem, principalmente, por meio de interações presenciais. Estudos apontam que vínculos próximos e saudáveis não apenas favorecem a felicidade, como também exercem efeitos positivos sobre a saúde física.

Há um corpo substancial de pesquisas indicando que a adolescência é um período-chave para a exploração da identidade social, o que inclui o desenvolvimento de relacionamentos românticos, da identidade e da atração sexual – aspectos fundamentais para a construção de habilidades relacionais que servirão de base para a vida adulta.

Atualmente, grande parte dos relacionamentos se estabelece no ambiente virtual, criando uma nova forma de comunicação social, que pode impactar o desenvolvimento dessas habilidades sociais. No entanto, os efeitos dessa transição só poderão ser avaliados com mais clareza ao longo do tempo.

A neurobiologia por trás das emoções intensas na juventude

Em jovens, frustrações amorosas recrutam de forma intensa os circuitos de “dor social” e estresse. A rejeição ativa regiões como o córtex cingulado anterior dorsal e a ínsula anterior, além de engajar redes límbicas (como a amígdala e o estriado ventral), associadas à saliência e ao sistema de recompensa, moduladas por dopamina e oxitocina. Em paralelo, o eixo hipotálamo‑hipófise‑adrenal pode elevar os níveis de cortisol, o que se junta à hipervigilância, ruminação e alterações no sono e no apetite.

Como o córtex pré‑frontal – responsável pelo controle inibitório e pela regulação emocional – ainda está em processo de amadurecimento no final da adolescência e início da vida adulta, a integração dessas respostas tende a ser menos eficiente. Isso contribui para emoções mais intensas, maior sensibilidade a pistas sociais e, em alguns casos, decisões mais impulsivas. Esses efeitos são, em geral, transitórios e variam entre indivíduos; não implicam dano estrutural, mas ajudam a explicar por que a dor de perda ou rejeição romântica pode ser percebida como fisicamente “dolorosa” e cognitivamente absorvente nessa faixa etária.

O que pais e responsáveis podem fazer

Especialistas recomendam que os pais e responsáveis conversem com os filhos sobre o uso de aplicativos e incentivem formas mais saudáveis de socialização, como atividades extracurriculares e encontros presenciais. Também é importante orientá-los para o uso seguro dessas plataformas: fazer chamadas de vídeo antes de encontros, escolher locais públicos, avisar familiares e evitar ficar a sós até haver confiança.

Embora muitos pais acreditem que seus filhos não usariam aplicativos de namoro, dados mostram o contrário. Manter o diálogo aberto é essencial para que desenvolvam relacionamentos mais saudáveis, longe das telas.

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