Casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos aumentam 79% desde 1990

por Redação | 10/06/2025

Nas últimas três décadas, o número de casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos cresceu de forma expressiva. Um estudo publicado no BMJ Oncology aponta um aumento de 79% nos diagnósticos entre 1990 e 2019. Esse fenômeno, classificado como câncer de início precoce, vem sendo tratado como uma epidemia global emergente, segundo revisão da Nature Reviews Clinical Oncology.

Os tipos mais comuns nessa faixa etária são câncer de mama, colorretal, estômago, fígado, esôfago, tireoide, próstata e testículo. Fatores como obesidade, alimentação rica em ultraprocessados, sedentarismo e consumo de álcool são apontados como possíveis causas para esse aumento.

Para aprofundar o tema, o oncologista Luís Pires, coordenador da Residência Médica em Oncologia Clínica e professor da Faculdade de Medicina da PUC-SP, responde às perguntas a seguir.

 

JPUC – Além dos fatores de risco anteriormente mencionados, quais outros o senhor apontaria?

O aumento do câncer em jovens é multifatorial. Fatores como dieta rica em ultraprocessados, obesidade, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool, poluição ambiental, uso indiscriminado de antibióticos (alterando o microbioma intestinal), fatores reprodutivos e predisposição genética contribuem para esse cenário. A interação entre ambiente e estilo de vida parece ser determinante, mesmo em pacientes sem histórico familiar da doença.

JPUC – Quais medidas preventivas podem ser adotadas para reduzir o risco de câncer de início precoce?

A prevenção envolve hábitos saudáveis (alimentação equilibrada, atividade física, controle de peso, evitar álcool e cigarro), proteção solar, vacinação e adesão aos exames de rastreamento. Conhecer o histórico familiar também permite estratégias personalizadas de prevenção e rastreamento.

JPUC – Como a Residência Médica em Oncologia Clínica da PUC-SP está se preparando para lidar com esse novo perfil de pacientes?

Ela está preparada para acolher o novo perfil de pacientes jovens com câncer por meio de uma formação sólida, atualizada e humanizada. O programa oferece uma base teórica abrangente e prática clínica supervisionada, com ênfase nas particularidades biológicas e psicossociais do câncer em adultos jovens.

A atuação é multidisciplinar, com integração entre diferentes especialidades, garantindo um cuidado oncológico completo e centrado no paciente. Além disso, valores como empatia, escuta qualificada e respeito às decisões do paciente são reforçados ao longo de toda a formação, alinhando excelência técnica e humanização.

JPUC – Apesar do aumento nos casos, houve avanços significativos no tratamento do câncer. O que o senhor destacaria para tranquilizar os pacientes?

Houve progresso notável em terapias-alvo, imunoterapia, cirurgia minimamente invasiva, radioterapia de precisão e medicina personalizada baseada em perfil genético. Esses avanços têm melhorado a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes.

JPUC – Quais têm sido os principais temas debatidos nos congressos internacionais de oncologia sobre o aumento de câncer entre jovens?

Debate-se a influência do microbioma, fatores de risco específicos, adaptação de estratégias de rastreamento, particularidades biológicas e psicossociais do câncer em jovens e a necessidade de abordagens terapêuticas personalizadas, incluindo cuidados de longo prazo

JPUC – Há diferença no comportamento biológico dos tumores que surgem em pessoas mais jovens em comparação aos diagnosticados em faixas etárias mais avançadas?

Sim. Tumores em jovens podem apresentar perfis moleculares distintos, maior agressividade e tipos mais raros, como sarcomas e tumores de células germinativas. Também se observa diferença na resposta imunológica e na origem das alterações celulares, que muitas vezes são precoces.

JPUC – Como a rede pública de saúde pode se preparar melhor para lidar com esse novo perfil de pacientes oncológicos mais jovens?

É essencial qualificar profissionais da atenção primária para reconhecer sinais precoces, garantir encaminhamento ágil, fortalecer ações de prevenção e implementar políticas públicas eficazes, com dados robustos e campanhas de conscientização voltadas à juventude.

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