
Diretores, coordenadores de curso, membros dos setores administrativos, funcionários, docentes e alunos do campus Sorocaba da PUC-SP participaram, na manhã de 18/9, de um curso e debate sobre letramento racial, conduzidos pela professora-doutora Maria Angélica Souza Ribeiro.
Presente no evento, o diretor da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS), professor-doutor Godofredo Campos Borges, destacou a importância da iniciativa da Universidade em assumir uma postura concreta de combate ao racismo. Ele também incentivou os participantes a se envolverem ativamente no debate e a formularem perguntas para a professora Maria Ribeiro após sua aula.
Tema delicado e fundamental na PUC-SP
Antes de a atividade ser iniciada, a pró-reitora de Cultura e Relações Comunitárias da PUC-SP, professora-doutora Myrt Thânia de Souza Cruz, destacou que a comunidade puquiana atravessa um momento importante ao se dedicar à discussão sobre letramento racial. “É um tema delicado, difícil e sensível, mas absolutamente fundamental no contexto em que vivemos hoje”, afirmou. Em seguida, ela apresentou a professora Maria Ribeiro.
Durante cerca de uma hora, Maria Ribeiro comandou a atenção de um público de aproximadamente 500 pessoas — entre participantes no auditório Maracanã e espectadores online — ao apresentar informações, estatísticas e fatos, além de responder, ao final, às perguntas da plateia.
Perfil da palestrante
Cientista social com mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e pela Université Paris-Diderot, Maria Ribeiro é professora na USP e na PUC-SP, além de redatora-geral do Siaparto, evento internacional que reúne especialistas em assistência ao parto para promover o intercâmbio de conhecimento e a disseminação das melhores práticas em saúde materna e neonatal. Integrante do Diversitas (Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da USP), ela é também autora do pós-doutorado “Ginecológicas”.
Dados sobre racismo na saúde
Durante sua palestra, Maria Ribeiro citou dados como uma pesquisa americana que concluiu que crianças negras recém-nascidas tiveram redução na taxa de mortalidade de 39% a 58% quando assistidas por médicos negros.
“Onde há racismo não há sociedade. [O racismo] é uma violência que nos é ensinada”, afirmou. De acordo com a professora, as universidades devem defender o antirracismo como premissa inegociável. “Aquilo que nós chamamos, por exemplo, de comunidade científica é uma comunidade encastelada, que tem por hábito distribuir diagnósticos de inaptidão para as pessoas barradas, jamais reconhecendo que os próprios privilégios foram determinantes para a sua titulação”, apontou.
Conhecimento produzido e referências acadêmicas
No contraponto, Maria Ribeiro ressaltou que o conhecimento produzido por pessoas negras na universidade é construído a partir de referências predominantemente brancas, europeias ou americanas. Além disso, destacou que o corpo docente, em sua maioria branco, tende a valorizar e priorizar pesquisadores e pesquisadoras igualmente brancos.
O conceito de branquitude
O conceito sociológico de branquitude, que descreve o estado, a qualidade e a posição de superioridade racial socialmente construída de pessoas brancas, também foi abordado por Maria Ribeiro.
Branquitude, por definição, não é apenas uma identidade, mas um sistema de privilégios materiais e simbólicos que beneficia pessoas brancas e legitima a violência contra pessoas não brancas, sendo um elemento central para a manutenção das estruturas de racismo. “A minoria populacional branca ocupa a maioria dos lugares de poder e, para além desse espaço de poder, todas as pessoas nascem e desembarcam dos úteros para dentro da linguagem”, afirmou.
Exemplificando esse último ponto, ela explicou que, na declaração de nascimento feita pela instituição hospitalar, é preciso determinar o sexo do recém-nascido. “Sendo menino ou menina, há diferentes cadeias significantes que serão acopladas de maneira quase que como protéticas a esse sexo. São expectativas de gênero.”
Caminhos institucionais
Em 10/6, a PUC-SP instituiu uma comissão responsável por formular um curso obrigatório de letramento racial para professores. A iniciativa foi uma resposta à paralisação ocorrida na universidade no mês de maio, motivada por denúncias de racismo e por reivindicações dos alunos por um currículo antirracista.
Na ocasião, o reitor Vidal Serrano selecionou um grupo de seis docentes para estruturar a Comissão para Letramento Racial (CLR), com o objetivo de "planejar, estruturar e acompanhar a criação e o início das atividades do referido curso, conforme diretrizes pedagógicas e políticas institucionais”.