Alunas de Psicologia pesquisam estresse em estudantes universitários
Grupo é formado por sete bolsistas e teve orientação da profa. Leda Perillo Seixas, no âmbito da disciplina eletiva “Estresse e Saúde mental"

Sete jovens mulheres bolsistas, alunas de Psicologia da PUC-SP. Sob a orientação da profa. Leda Perillo Seixas, elas realizaram a pesquisa Fenômeno do estresse nos estudantes universitários da PUC-SP, para compreender como o fenômeno se apresenta tanto em bolsistas quanto em pagantes da Universidade. O trabalho foi realizado no âmbito da disciplina eletiva “Estresse e Saúde mental", no segundo semestre de 2024.
As estudantes Camilla Santos da Silva, Jamily Barbosa de Lima, Larissa Lavander, Laura Costa Sirqueira, Laysla Ribeiro, Mariana Leão e Stephany Melo tinham como objetivo “compreender a rotina dos alunos desta universidade e analisar os fenômenos que são causa e consequência do estresse, a fim de compreender como se dão os sintomas físicos e subjetivos e analisar o impacto do estresse na qualidade de vida dos discentes”.
Segundo as graduandas, a pesquisa foi realizada na perspectiva da Psicologia Sócio-Histórica “visto que a dimensão subjetiva da realidade se mostrou fundamental para compreender as variações de estresse entre os alunos pagantes e bolsistas, considerando também a dimensão subjetiva da desigualdade social”.
A partir dos dados obtidos por meio do Google Forms, as estudantes afirmam que, apesar de ambos os grupos, bolsistas e pagantes, demonstrarem níveis de estresse semelhantes, as causas identificadas são opostas.
“Para alunos pagantes, as principais fontes de estresse se baseiam nas relações interpessoais, carreira e faculdade. A universidade os preocupa dentro das demandas que são exigidas por professores para que consigam concluir o curso. No entanto, para aqueles que são bolsistas na PUC-SP, o estresse se concentra em situações do cotidiano que envolvem questões estruturais do país, como a desigualdade social (em todos os seus âmbitos), condições financeiras desfavoráveis (e suas implicações), e a faculdade, focado não apenas nas questões do próprio curso, mas principalmente no sentimento de falta de pertencimento a este local, além do medo de perder a bolsa de estudos. Os altos índices de preocupação quanto ao futuro neste grupo se encontram na questão financeira, onde muitos encaram a faculdade como uma esperança para a mudança de sua vida e a da própria família”, afirmam, a partir dos dados coletados.
A pesquisa, segundo as estudantes, mostra a importância de entender o estresse universitário não apenas como uma resposta a fatores externos, mas como um fenômeno subjetivo, que reflete as realidades sociais, culturais e econômicas de cada estudante. “Dessa forma, é essencial que a universidade, enquanto instituição de ensino, desenvolva políticas e estratégias de apoio psicológico e social que considerem as diferentes realidades dos alunos, a fim de promover um ambiente mais inclusivo e acolhedor. O estresse, portanto, deve ser compreendido em sua totalidade, levando em conta não apenas as pressões acadêmicas, mas também as condições socioeconômicas que influenciam diretamente a experiência dos estudantes dentro do ambiente universitário”, defendem.
Leia, a seguir, entrevista com as integrantes do grupo
J.PUC – Como se deu a escolha do tema?
Larissa Lavander – Antes da escolha, foram realizadas entrevistas e aplicação do teste DASS-21, para avaliar, especificamente, o grau de estresse das pessoas entrevistadas. Nessa etapa não houve recorte. Poderia ser qualquer pessoa que quisesse responder ao questionário. A partir disso, iniciamos as discussões de escolha do tema, nas quais surgiram conversas sobre a nossa vivência enquanto bolsistas na PUC-SP e a diferença com pessoas que custeiam o próprio curso, o que nos instigou a pesquisar como se dá o estresse nos estudantes bolsistas e pagantes na PUC-SP, e quais seriam as diferenças entre esses dois grupos.
J.PUC – Qual a importância, na opinião de vocês, de pesquisar esta temática?
Laura Costa – Para nós é muito importante compreender de que maneira alguns marcadores sociais podem influenciar na vivência universitária dos alunos. Por meio da pesquisa, foi possível observar como determinadas especificidades na vida dos discentes bolsistas, como conciliar o trabalho e o estudo, a preocupação com a vida financeira, a falta de rede de apoio e os atravessamentos da desigualdade social, podem potencializar os níveis de estresse, favorecer o aparecimento de sintomas psicopatológicos, bem como impactar a permanência na universidade. Portanto, achamos crucial que a universidade questione como contribuir para a permanência desses estudantes e de que maneira oferecer a igualdade de direitos e oportunidade, repensando a política educacional e promovendo iniciativas que auxiliem na permanência dessa população.
J.PUC – Qual foi o maior desafio na realização da pesquisa?
Camilla Santos da Silva – O maior desafio em realizar essa pesquisa é o fato de sermos bolsistas e, ao analisarmos os resultados, nos depararmos com nossa própria realidade, como se estivéssemos diante de um espelho. A luta diária para concluir a graduação é árdua, e o estresse parece ser uma constante em nossas vidas. Observar os efeitos de uma rotina de estresse crônico no corpo é especialmente difícil porque isso reflete diretamente o que vivemos: somos esses corpos afetados enfrentando múltiplos desafios todos os dias.
J.PUC – O que mais as surpreendeu durante o trabalho e em relação às conclusões a que chegaram?
Mariana Leão – De maneira geral, o grupo esperava que as respostas do formulário trariam muitas diferenças entre os alunos bolsistas e pagantes. Isto pela nossa vivência na faculdade, considerando todos os aspectos que prejudicam nosso próprio dia a dia e a permanência na universidade. Assim, os motivos de estresse que foram comparados nos gráficos, não nos trouxeram estranheza. No entanto, obtivemos uma surpresa considerável. Inicialmente, pensamos que os níveis de estresse em alunos bolsistas seriam maiores. Contudo, o resultado obtido foi que ambos os grupos mostraram, em média, estresse leve na escala DASS-21. Apesar disso, como já esperávamos, os grupos são expostos a diferentes fatores, e devido a isso, houve uma diferença significativa em relação aos principais motivos de estresse em cada grupo. Da mesma forma, trouxe certo incômodo constatar que os alunos bolsistas relataram grandes níveis de ansiedade, dado não relatado no outro grupo, o que abre oportunidades para um novo estudo considerando esta variável.
J.PUC – Como avaliam o impacto acadêmico e pessoal de realizar pesquisa na graduação?
Stephany Melo – A pesquisa ampliou nossas habilidades acadêmicas, como elaboração de projetos, análise de dados e aprofundamento teórico em Psicologia Sócio-Histórica. A metodologia DASS-21 nos ajudou a avaliar níveis de estresse entre estudantes de forma técnica e fundamentada. No âmbito pessoal, refletimos sobre nossa vivência acadêmica, identificando-nos com relatos de pressões financeiras, medo da perda de bolsas e sentimento de não pertencimento. Concluímos que o impacto da pesquisa transcende o acadêmico, influenciando nossa percepção sobre o papel da universidade na inclusão e no bem-estar, reforçando nosso compromisso com uma educação mais igualitária e humanizada.
J.PUC – E como avaliam o impacto acadêmico e pessoal de realizar pesquisa com esta temática, especificamente?
Jamily Barbosa – Nosso trabalho coloca em pauta uma reflexão acerca de como as vivências são ímpares a partir dos atravessamentos que perpassam a vida e, consequentemente, o aproveitamento acadêmica do indivíduo (seja ele bolsista ou não), trazendo luz às questões que envolvem políticas afirmativas e de permanência de alunos bolsistas e a emergência de atenção ao fenômeno do estresse, que ainda é comumente negligenciado, como causador de questões de saúde física e mental e, por isso, é um conteúdo que contribui academicamente para estudos acerca dos temas citados anteriormente. Já se tratando do grupo, nós somos um grupo de 7 mulheres prounistas dentro de uma universidade particular elitizada, portanto, inevitavelmente o tema nos toca pessoalmente. Apesar de não termos respondido o formulário que divulgamos, por implicações éticas, nos vimos nele de alguma forma. As respostas nos mostraram na teoria, sustentada pela pesquisa, o que vemos e vivemos na prática.
J.PUC – A partir dos resultados que obtiveram com a pesquisa, que ações as universidades poderiam realizar/ampliar para que o estresse que identificaram fosse minimizado ou até mesmo excluído da rotina dos estudantes?
Laysla Ribeiro – A partir dos dados apresentados na pesquisa alguns resultados foram bastante expressivos e tendo em vista que são fatores agravantes do estresse entre os estudantes, algumas medidas podem ser tomadas pela universidade. Um dos maiores motivos de estresse citado pelos estudantes bolsistas é o transporte público, usado por 97% da amostra e também por longos períodos, alcançando até mais de 2 horas. Considerando que as aulas da PUC têm horários de início variados, podendo variar entre 7h30 até 22h, muitos alunos sofrem para chegar nas aulas que iniciam cedo, chegando atrasados por conta do transporte e/ou sofrem para conseguir chegar em casa no período da noite, tendo em vista o deslocamento e tempo gasto no transporte. Como há possibilidade de alteração de horário de aulas, os alunos bolsistas que percorrem grandes distâncias até a universidade, deveriam ter certa prioridade para essa alteração, visto que são os mais impactados pela problemática. Outro fator expressivo é a falta de meios reguladores do estresse, como a possibilidade de fazer terapia, por exemplo. Muitos, por serem alunos do curso de Psicologia não podem procurar o atendimento psicológico prestado pela Clínica da PUC, logo como alternativa, a Pontifícia poderia buscar parcerias para oferecer atendimento a tais alunos com maior facilidade. Além disso, outra ação que já está sendo reivindicada pelos coletivos estudantis é a ampliação da bolsa alimentação, para que alunos de bolsas parciais também tenham acesso a tal direito.